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19 jan. 2021

Cobre, metal que arde

Maria Raquel Passos Lima

Na mundo de hoje, nos tornamos seres ultra-conectados, imersos em fluxos constantes de dados digitais, através de dispositivos tecnológicos como smartphones, tablets, computadores e afins. Os habitantes do século XXI, por causa da relação indissociável com estes aparelhos, tornam-se meio-ciborgues, já que celulares, telas e computadores fazem parte da vida cotidiana como uma extensão mesma do corpo.

Mas enquanto nós vivemos várias décadas, esses aparelhos duram muito pouco. Quantas vezes trocamos ou adquirimos aparelhos novos na última década? E para onde vai tudo aquilo que descartamos?

Segundo a Organização das Nações Unidas, aproximadamente cinqüenta milhões de toneladas de resíduos eletrônicos são produzidas a cada ano. Os eletrônicos dispensados pela população mundial são exportados da Europa e dos Estados Unidos para países “em desenvolvimento” como Nigéria, Vietnã, Índia, China e Filipinas.

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Gana se tornou uma das principais destinações mundiais de resíduos eletrônicos, onde um mercado se desenvolveu em torno dos restos eletrônicos, o “e-waste”. Em Accra, capital do país, o negócio informal floresce por ser uma fonte financeira considerável.

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O fotógrafo Nyaba Léon Ouedraogo, de Burkina Faso, retratou o universo dos jovens e crianças que recuperam os metais dos objetos eletrônicos descartados no vazadouro de Agbogbloshie Market. Eles passam o dia desmontando monitores e peças de computadores velhos para queimar componentes de plástico ou borracha e recuperar o cobre. O metal precioso é revendido para a Índia ou a Nigéria, que depois de processados, viram bijuterias a serem distribuídas novamente no mercado europeu.

A extração do cobre é feita através da queima dos materiais. Os resíduos eletrônicos contém uma série de metais pesados como chumbo e mercúrio,  que representam um grave risco à saúde por serem tóxicos, assim como a queima do plástico PVC, que libera substâncias potencialmente cancerígenas.

Além dos metais afetarem o sistema nervoso, reprodutivo e o sangue e a queima dos materiais aumentarem o risco do desenvolvimento de doenças  respiratórias, cardiovasculares e dermatológicas, ainda existem os danos causados ao meio ambiente pela contaminação do solo, dos canais e dos animais que vivem na região.

 

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A série fotográfica “O inferno do cobre” (2008) de Nyaba Léon Ouedraogo expõe as condições de vida e de trabalho dos ganenses no contexto da produção e dos fluxos mundiais de materialidades, mostrando as desigualdades do sistema econômico mundial e a assimetria que atravessa os processos de globalização. Seu trabalho aborda temas atentos às relações entre ecologia, economia e política. Em 2011, Ouedraogo ganhou o prêmio da União Européia e o prêmio da Fundação Blachère Prize pelo seu trabalho.

créditos das imagens: © Nyaba Léon Ouedraogo, série “L’enfer du cuivre”, 2008.

* Esse texto foi publicado originalmente no site ResiduaLogics (www.residualogics.com) em 25 de novembro de 2015