O artigo discute a emergência dos catadores de materiais recicláveis no âmbito institucional e jurídico, a partir da organização política da categoria e da criação de um marco regulatório inédito para a gestão de resíduos sólidos no país, com a sanção da Política Nacional de Resíduos Sólidos. A partir do trabalho de campo realizado no bairro de Jardim Gramacho, na Baixada Fluminense, o artigo apresenta o caso do fechamento do aterro de resíduos da localidade, descrevendo a organização e as negociações dos catadores, com foco na atividade das lideranças e sua busca pela criação de alternativas de trabalho e renda para os catadores locais. A narrativa aborda o fazer político dos catadores diante do contexto de execução de políticas públicas voltadas para a inclusão social da categoria, apontando divergências, clivagens e embates relativos à heterogeneidade própria dos catadores e as dificuldades em torno do exercício da representação pelas lideranças no universo estudado. Com isso, busca-se evidenciar contradições e paradoxos que emergem da implementação de medidas vigentes nos novos marcos regulatórios de resíduos e os efeitos dissonantes entre a concepção das políticas governamentais e sua execução prática em contextos específicos.